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A escassez de vacinas
Faltam produtos, mercado internacional se fecha para o Brasil e programa de vacinação decepciona
Fernando Lavieri
Especial – Brasil 400 mil mortos
Segundo o médico sanitarista e professor da USP Gonzalo Vecina Neto, a doença só deve ser controlada quando se garantir a cobertura vacinal de 60% da população brasileira, o equivalente a 150 milhões de pessoas. Mas, no ritmo atual, isso não vai acontecer antes de 2022, prazo que pode ser antecipado em um ou dois meses, segundo ele, se for confirmada a entrega de 100 milhões de doses da Pfizer, 38 milhões de doses da Jansen-Cilag e 40 milhões de doses da AstraZeneca. Diariamente a campanha é interrompida em algum lugar por falta de vacinas. Nos últimos dias, pelo menos dez cidades do estado do Rio suspenderam a aplicação da segunda dose para idosos. Na semana passada, o governo de São Paulo denunciou que o Ministério da Saúde esqueceu 100 mil doses de Coronavac num centro de distribuição.
Baixa cobertura
As deficiências de planejamento apresentadas pelo governo Bolsonaro impuseram ao País o pior momento da pandemia. A infectologista da Unicamp e consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia, Raquel Stucchi, entende que a partir da percepção da necessidade de vacinação, em outubro do ano passado, o governo deveria ter organizado uma ampla aquisição de vacinas e assumido o compromisso de imunizar as pessoas rapidamente. “Mas não foi isso que aconteceu, eles se esforçaram para boicotar as vacinas”, afirma. Na semana passada, a Anvisa negou o registro da russa Sputnik V, o que também deve reduzir a oferta de imunizante.
No contexto da pandemia, a administração federal se mostrou aliada do coronavírus, mas progressivamente o País contou com a expertise e o planejamento de suas principais entidades de saúde: o Instituto Butantan, que fabrica a Coronavac em parceria com laboratório chinês, Sinovac, e com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), produtora da vacina Oxford, desenvolvida em cooperação com a AstraZeneca. O Butantan já entregou, neste ano, 41,4 milhões de doses ao PNI, e, com o intuito de acelerar o processo de imunização tomou a iniciativa de desenvolver um imunizante próprio. Estão sendo produzidas 18 milhões de doses da nova vacina Butanvac para uso imediato, já na primeira quinzena de junho, só aguardando a aprovação da Anvisa. Em meio à mortandade pela pandemia, o tardio e errático planejamento do Ministério da Saúde prevê a aquisição de mais 400 milhões de doses até o fim de 2021. Difícil acreditar.
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