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sexta-feira, 1 de abril de 2022

A FONTE DA INFORMAÇÃO REVISTA ISTOÉ :

 https://istoe.com.br/o-grito-da-nova-geracao/


CAPA

Bolsonaro perde prestígio junto aos jovens de classe média

O clima de “Fora Bolsonaro” se dissemina entre os jovens, vira quase um mantra entre minorias e mulheres e revela uma rejeição política cada vez maior ao presidente. Por questões comportamentais, pela vontade autoritária e diante do fracasso na gestão em áreas do governo que interessam diretamente aos brasileiros de 16 a 24 anos, como educação e meio ambiente, eles se distanciam da sua candidatura e buscam outras opções. O festival Lollapalooza, que Bolsonaro tentou censurar, serviu como termômetro de perda generalizada de prestígio fora de sua bolha ideológica e da dificuldade que ele terá dessa vez para conquistar votos entre as pessoas mais novas da classe média urbana.

Crédito: VANESSA CARVALHO/Brazil Photo Press via AFP

PROTESTO A banda Fresno foi a primeira a entoar o brado da juventude de classe média em alto e bom som (Crédito: VANESSA CARVALHO/Brazil Photo Press via AFP)

Os sinais são claros de que a nova geração cansou do autoritarismo, do desprezo às minorias e das tentativas de censura levados adiante por Jair Bolsonaro, que faz propaganda política abertamente enquanto busca calar os opositores que se manifestam contra ele. É o caso de boa parte dos cerca de 300 mil jovens que foram assistir aos três dias de shows do Lollapalooza, um dos maiores festivais de música do mundo, realizado no Autódromo de Interlagos, em São Paulo. Por causa de manifestações da cantora Pabllo Vittar em favor do candidato Luis Inácio Lula da Silva, o partido de Bolsonaro, o PL, acionou o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) denunciando a realização de propaganda irregular. O ministro Raul Araújo acatou o pedido e proibiu protestos durante o final de semana do evento, estabelecendo uma multa de R$ 50 mil para a organização do festival em caso de transgressão. No final deu tudo errado e o PL voltou atrás, mas ficou a demonstração cabal de que o governo não tolera divergência e trata os adversários com um rigor ditatorial. Ao mesmo tempo faz o que quer e promove a própria campanha eleitoral antes da hora, sem que haja reação do tribunal.

CRÍTICA Artistas como Marcelo D2 aproveitaram o festival para mostrar sua insatisfação com o governo (Crédito:Marcos Hermes)
MILITÂNCIA Emicida e Crioulo fazem campanha para que os menores de 18 anos tirem título de eleitor (Crédito:Adriano Vizoni)

Não por acaso, a popularidade de Bolsonaro entre os jovens despenca. Entre os artistas já é quase nula, num clima parecido ao do AI-5 – inclusive, o presidente elogiou o coronel Brilhante Ustra, domingo, 27. São sucessivos esforços de censura, de subordinação das mulheres, além de perseguições explícitas e veladas a grupos minoritários e promoção da violência, incluindo armamentista. Não bastasse a asfixia promovida pela Secretaria da Cultura e as tentativas de manipulação do Enem, durante três anos e três meses de governo, ele trabalhou contra a educação inclusiva, xingou estudantes, expressou preconceitos de todos os tipos e pregou uma universidade para poucos. Para Bolsonaro, os jovens são ameaçadores, trazem na alma o sentido da mudança e estão se afastando dele politicamente, por questões comportamentais. Ele quer agora, por exemplo, aprovar uma nova lei anti-terrorismo genérica que permitiria ao governo cometer arbitrariedades e perseguir manifestantes por qualquer motivo, podendo transformar um simples incidente em um protesto em uma questão de Estado. Bolsonaro ficou incomodado com o termômetro político que foi o festival e percebeu que não tem o mínimo controle sobre esse grupo, como acontece entre as mulheres de todas as idades. São alas do eleitorado em que ele enfrenta ampla rejeição. Nos dias seguintes, fez ironias contra os jovens e recomendou que seguissem as recomendações de seus pais e não votassem no PT.

A preocupação com o mantra “Fora Bolsonaro” cresce entre os estrategistas da campanha. O Lollapalooza expôs o descontentamento com o presidente em larga escala, em um público de classe média, fora do ambiente de fake news e cheio de robôs das mídias sociais. A banda Fresno, depois da decisão do TSE, foi a primeira a gritar o mantra, em alto e bom som, levando a plateia ao delírio – o grupo ainda colocou a frase “Fora Bolsonaro” no telão principal do palco. Anitta, que pelas redes sociais, já clamava aos jovens de 16 a 18 anos para fazer seu título de eleitor com o objetivo de “tirar o presidente atual”, zombou da multa de R$ 50 mil e disse que, com o valor, ela deixaria de comprar “uma bolsa”. A cantora ainda afirmou que pagaria a multa de outros artistas que não conseguissem arcar e incentivou os colegas a não se calarem. Outro influenciador digital que também estimulou os cantores a protestar foi Felipe Neto. Com mais de 15 milhões de seguidores nas redes sociais, o youtuber afirmou que os advogados do grupo “Cala Boca Já Morreu”, criado para intervir em situações de censura, estariam à disposição para contribuir na defesa de quem precisasse. Isso não foi preciso. Em uma trapalhada investida, o advogado responsável por protocolar a decisão do TSE errou o CNPJ e o e-mail do festival. Sem poder citar o Lollapalooza, não se pode cumprir determinação, então nenhum artista foi acionado. “O governo Bolsonaro é covarde, sua gestão é composta por gente de péssimo caráter, má índole e perversa. Os jovens sempre foram, historicamente, os primeiros a se revoltar. Os números das pesquisas deixam claro que os jovens são a maior força anti-Bolsonaro hoje no País e daí vem o desespero da corja que compõe esse governo”, afirmou Felipe Neto em entrevista exclusiva à ISTOÉ.

Os jovens formam um grupo determinante para o resultado da eleição deste ano. Se em 2018, segundo pesquisa do Datafolha, quase 30% dos jovens de 16 a 24 anos apoiava o presidente Bolsonaro, por ser uma figura nova, caricata, que fala o que pensa e, principalmente, por ter vindo das redes sociais – ambiente majoritariamente de jovens – nesta eleição, entretanto, as coisas mudaram. Mais de 50% desse público quer o impeachment do presidente – ele tem o apoio de apenas 16% da mesma faixa etária. Os motivos são diversos: a falta de olhar e programas de governo para a idade, o fato de ser conivente com o desmatamento e a destruição do meio ambiente, além, é claro, da má gestão com a pandemia que ele chegou a ridiculariza-la diversas vezes. Bolsonaro esquece que esses jovens que confiaram nele, perderam avós, pais, irmãos, primos, entre outros familiares para o que ele chamou de “gripezinha”. Beatriz Santos, 23 anos, votou em Bolsonaro no segundo turno em 2018, pois “queria tirar o PT do poder”, mas se arrependeu amargamente. “Foi a maior decepção da minha vida, queria voltar no tempo. Fiquei completamente frustrada e indignada. Se fosse o Haddad seria diferente. Acredito que ele não teria esse descaso pela pandemia”, afirmou. A garota revela que não vai cometer “o mesmo erro duas vezes” e não votará no presidente este ano. “Ele não olhou para os jovens durante quatro anos, porque olharia agora?”

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