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Julia Gonçalves, 22, também votou em Bolsonaro no primeiro e segundo turno em 2018, pois acreditou que ele seria diferente dos demais candidatos. “Queria uma renovação na política, mas logo fez alianças com o Centrão, acordos para se manter no poder. Basta de Jair Bolsonaro. Ele não fez nada de diferente dos outros, aliás fez pior durante uma pandemia”, diz. Mas ela também não votará no ex-presidente Lula. “Uma terceira via seria melhor. Estou torcendo para isso acontecer, caso contrário, terei que anular meu voto”, diz. A insatisfação desta faixa etária é tanta que até o dia 21 de março, o TSE emitiu mais de 850 mil títulos de eleitor para jovens de 15 a 18 anos. As novas emissões ocorrem em meio a uma campanha de mobilização nas redes sociais com grandes artistas como Anitta, Luísa Sonza, Zeca Pagodinho, Jão, Marina Sena e até nomes internacionais, como do ator Mark Ruffalo. Ele relembrou que nas eleições americanas esses jovens foram essenciais para tirar Donald Trump do cargo e pediu que os brasileiros façam a mesma coisa.
Pedro Henrique Katopodis estava no show da Pabllo Vittar no Lollapalooza e não tem vergonha em dizer que gritou junto com os milhares de jovens contra o atual mandatário. “Foi uma sensação indescritível. Estavam todos muito felizes em poder se expressar livremente”, afirma. O jovem, apaixonado por sociologia, história e geografia, ficou frustrado por não poder votar em 2018. Ele já tinha estudado os candidatos, sabia quem queria escolher. Havia participado de manifestações na rua e era membro de um grupo revolucionário desde os 15 anos. Agora, aos 17, não pensou duas vezes e tirou o título de eleitor. “Há uma linha tênue entre política e ética, mas alguns atos do Bolsonaro não tem como conversar. Está havendo um genocídio dos povos indígenas, desmatamento na Amazônia, descaso com a saúde pública e a educação, as tentativas de censura no MEC. Não tem como defender sendo de esquerda ou direita”, diz. Apesar de serem jovens, eles estudam, fazem parte de organizações políticas, se interessam pelo assunto e não deixam ser influenciados por pais, mães, parentes ou amigos. Flora Carvalho, por exemplo, vai completar 18 anos este ano, mas desde 2020 já tem título de eleitor. A garota começou a se interessar pelo assunto em 2018, após o assassinato da vereadora Marielle Franco. “Foi a primeira vez que eu tive contato com a morte de uma mulher, negra e LGBT”, explica. Na época, ela tinha apenas 13 anos, mas ficou extremamente impactada com a falta de transparência e resultado do governo.
Vontade democrática
A família de Flora sempre a incentivou a ler livros, jornais e formar a sua própria opinião. “Eu e minha mãe, politicamente falando, pensamos muito parecido, mas é claro que há divergências. Ela não tenta me manipular ou me influenciar a votar em um político especifico e acho isso importante. Os jovens têm opinião, têm senso crítico e precisam estudar os candidatos para eles próprios chegarem em uma decisão”, afirma. A estudante ainda não entende o motivo de tanto jovem ter apoiado o atual presidente nas eleições de 2018, segundo ela, o chefe de Estado já demonstrava ser “misógino, racista e homofóbico”, mas acredita que a queda na popularidade de Bolsonaro entre sua faixa etária se dê pelo aumento de grupos minoritários no debate público. “A gente começa a fazer perguntas quando nos aceitamos. Quem da direita defende meus amigos? Quem olha para o meu grupo? Estamos nos unindo para ter mais segurança, para nos aceitarmos, e não morrer na rua por ódio dos outros. É uma forma de resistir a esse desgoverno”, explica.
Na segunda-feira, 28, depois de perceber que a decisão de censurar os artistas do Lollapalooza não tinha sido bem aceita, Bolsonaro ordenou que seu partido retirasse a ação apresentada ao TSE. Mas já era tarde demais, além do festival ter se encerrado um dia antes, o estrago já estava feito. Político nenhum pode definir o lugar de falar sobre política. O assunto, por lei, é um direito do cidadão e pode ser tratado em todo o lugar. Claro, contanto que não haja violação dos direitos morais, ou que ofenda a integridade e a moral do próximo, sempre respeitando o semelhante. Nenhum desses casos foi notado durante o festival de música ou nos atos de Pabllo Vittar, banda Fresno, Emicida, Jão, e tantos outros que expressaram sua própria opinião. Direito este assegurado pela Constituição como liberdade de expressão. A verdade é que não se pode, e nem deve, querer calar os jovens, pois eles vão gritar mais alto, um som ensurdecedor, que vai fazer Bolsonaro cair da cadeira. Na eleição que se aproxima, a juventude, cada vez mais revoltada com os abusos do presidente, terá papel decisivo para garantir a democracia.
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