Toque de recolher Diante da explosão do contágio pelo coronavírus, que já matou mais de 250 mil brasileiros, estados e cidades adotam ações de lockdown para conter a movimentação de pessoas e controlar a pandemia. Por um mês, a vida noturna será extinta em grandes cidades FORTALEZA (Crédito: Jarbas Oliveira)
Vicente Vilardaga e Taisa Szabatura
26/02/21 - 09h30 O isolamento social vai aumentar no Brasil. Depois de deixar a população pintar e bordar no verão, fazer aglomerações em bares e lotar o litoral, agora, num esforço desesperado, vários governos tentam baixar medidas de restrição absoluta sem garantia de resultados. Estados e cidades estão intensificando ações restritivas para frear o aumento dos casos de Covid-19 e essas iniciativas incluem desde limitações de circulação em alguns horários, fechamento de comércio e de atividades não essenciais e proibição de acesso a parques e praias. O endurecimento se explica porque o Brasil registra neste momento a maior média diária de mortes pela doença desde o início da pandemia e atingiu a trágica marca de 250 mil mortes. Estados como São Paulo, Bahia, Pernambuco, Rio Grande do Sul, Ceará, Paraíba e Piauí anunciaram períodos de lockdown e toques de recolher nos próximos dias. No interior paulista, quatro cidades, incluindo Araraquara, decretaram o fechamento total do comércio e limitaram drasticamente a circulação de pessoas. Em São Paulo, onde os leitos de UTI estão lotados, a partir de sexta-feira 27 e até 14 de março, a população ficará proibida de circular entre 23 horas e 5 horas.
JOÃO PESSOA (Crédito:Josemar Gonçalves)Sofrimento social Apesar de bem-vindo, o aumento das restrições divide os especialistas. Para o infectologista Caio Rosenthal, quando um lockdown total é decretado, o sofrimento social é muito grande, “é uma Escolha de Sofia”. “O lockdown sem um planejamento que envolva um plano de vacinação é ineficiente. É preciso ter um plano claro e que passe credibilidade para a população”, afirma. Por razões óbvias, segundo ele, cidades e países pequenos conseguem adotar medidas restritivas com sucesso, mas em uma megalópole com mais de dez milhões de pessoas, como São Paulo, e com diversos municípios satélites isso é quase inviável. “Até onde posso ir? Onde acaba um município e começa outro?”, questiona. “Fazer toque de recolher em um horário em que já não há grande circulação de pessoas é uma gota no oceano. Não dá para ver o efeito”. Segundo ele, “a população está sem confiança e o lockdown acaba perdendo a credibilidade por não ser feito de maneira correta e com planejamento”.
“Nós temos poder de polícia para impor um isolamento mais sério, mas os governantes têm medo político dessa prática” Gonzalo Vecina, médico sanitarista (Crédito:Marco Ankosqui)Já o médico sanitarista Gonzalo Vecina Neto vê o problema de outra forma e chama atenção para a falta de cautela e de comprometimento da população com o combate à pandemia. O que se vê nas ruas é uma montanha de pessoas sem máscaras e lojas e bares lotados. “Estamos diante de um aumento violento de óbitos, que é uma consequência do aumento de casos, decorrente da circulação de pessoas”, diz. “Enquanto a circulação permanecer alta, o vírus vai continuar se espalhando em uma velocidade muito rápida.” Para ele, o lockdown não deu certo no País até agora porque não foi feito de maneira adequada. Ele espera que as novas medidas tomadas em vários estados brasileiros dêem resultados. “Nós temos o poder de polícia para impor um isolamento mais sério, mas os governantes têm o medo político dessa prática. Tampouco é possível isolar as pessoas sem garantir o sustento delas”, explica. Ele diz que o lockdown em Araraquara e em outras cidades do interior está sendo bem-sucedido.
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