OS EX-SUPERALIADOS QUE TERMINAM 2019 COMO 'DESAFETOS' DE BOLSONARO
Dos principais articuladores de Bolsonaro no Congresso, só dois continuam ao lado do Planalto
André Shalders
30/12/2019 - 12:08
O presidente Jair Bolsonaro terminará o ano com uma longa lista de ex-super-aliados: pessoas que foram importantes no início do mandato, mas hoje estão afastadas ou rompidas politicamente com o Planalto.
Dos principais articuladores de Bolsonaro no Congresso, só dois continuam ao lado do Planalto: os líderes do governo na Câmara, major Vitor Hugo (PSL-GO); e no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE). Todos os outros deixaram de trabalhar com o presidente. Foi o que aconteceu com a então líder do governo no Congresso, Joice Hasselmann (PSL-SP); com o líder do PSL no Senado, Major Olímpio (PSL-SP); e com Delegado Waldir (PSL-GO), então líder do PSL na Câmara - partido pelo qual Bolsonaro se elegeu.
Mas a lista vai muito além do time de articuladores no Congresso. Inclui desde antigos ministros como Gustavo Bebianno (Secretaria-Geral) e Santos Cruz (Secretaria de Governo) até o presidente do partido pelo qual Bolsonaro se elegeu, o deputado Luciano Bivar (PSL-PE).
Alguns dos ex-aliados hoje criticam abertamente Bolsonaro, como o deputado Alexandre Frota (PSDB-SP). Outros não costumam falar contra o presidente, mas se afastaram — caso do ex-coordenador de campanha do presidente no Nordeste, o deputado Julian Lemos (PSL-PB).
COMO A 'LISTA DE DESAFETOS' AFETA A POLÍTICA
Se três de quatro interlocutores do governo com o Congresso deixaram de trabalhar com o Planalto, cedo ou tarde a articulação política do governo começará a ser afetada, certo?
Mais ou menos. À BBC News Brasil, Joice Hasselmann (ex-líder do governo no Congresso) e Major Olímpio (ex-líder do Senado) dizem que continuarão votando com o governo por causa de uma afinidade com as ideias do Planalto — conservadorismo nos costumes e liberalismo na economia.
"Nós (PSL e Bolsonaros) fizemos uma campanha juntos. Levamos uma bandeira para o povo brasileiro. As pautas que forem comuns (entre o partido e o presidente) nós vamos continuar votando juntos", diz Major Olímpio à BBC News Brasil. "Eu tenho visto maturidade, tanto da Câmara quanto do Senado. Não temos nos contaminado pela falta de articulação de setores do governo. Por exemplo: o presidente saiu do PSL; e, no entanto, eu estava agora (na última terça-feira, 17) fazendo a defesa da pauta do governo", diz o senador.
"E isso tem sido uma lógica dentro do Congresso. Mesmo sem ter articulação política, votamos a Previdência como um todo. Votamos a previdência dos militares. Então, as pautas que são fundamentais, que são caras ao país, nós não estamos nos contaminando por discussão de caráter político-partidário ou ideológico. E creio que vai continuar assim", diz Olímpio.
"As pessoas que ele afasta ou não, ele as escolheu. Portanto, está dentro do livre-arbítrio dele, do convencimento dele, dizer se mantém, ou não, a confiança. É de caráter pessoal, não dá para a gente fazer um juízo de valor", diz o senador.
Joice Hasselmann têm avaliação parecida — muitos políticos votam à favor dos projetos do governo por concordar com a agenda do Planalto —, mas sugere que o jeito ruidoso do presidente atrapalha o trabalho com o Congresso.
"A Câmara quer tocar as reformas (econômicas). Então, estamos fazendo as reformas apesar do presidente", diz ela "O estilo do presidente atrapalha muitas vezes a governabilidade. Faz com que haja atritos entre os poderes. Isso é claro e notório. É só olhar a retrospectiva do ano. A cada semana a gente tem uma pequena crise. Ou causada pelo Twitter, ou por uma declaração, uma reunião que vaza, então isso é muito ruim", diz Hasselmann à BBC News Brasil.
Joice Hasselmann se afastou do Palácio no "racha" do PSL, em outubro. Ela assinou uma lista contra a tentativa de Eduardo Bolsonaro de se tornar o líder do partido na Câmara. Em retaliação, foi removida da Liderança do Governo no Congresso. Dias atrás, fez um duro depoimento à CPMI das Fake News, no qual acusou o governo de ter gastado R$ 491 mil para difundir notícias falsas.
"Ninguém fica (no cargo) numa situação de absoluta falta de cumprimento de palavra, de acordos, de desrespeito aos outros poderes. Então, essa instabilidade se reflete no próprio trabalho dos líderes aqui dentro. O que você tem para trabalhar é a sua credibilidade, é o cumprimento da palavra. Não adianta o líder construir uma ponte todo dia e alguém do Palácio jogar uma bomba e destruir esta ponte", diz ela.
A impressão do analista político Thomas Traumann é menos otimista que a de Joice Hasselmann e Major Olímpio.
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