Moro desmascarado pelo ‘Le Monde’: a serviço dos EUA 

Reportagem do mais influente jornal francês desmoraliza o ministro da Justiça de Jair Bolsonaro. À frente da Lava Jato, o ex-magistrado transformou a maior operação anticorrupção da história do Brasil no maior escândalo jurídico e deixou o aparelho do sistema de Justiça do país ser capturado pelos interesses do Departamento de Estado norte-americano
No domingo, 11 de abril, o jornal Le Monde, um dos mais influentes periódicos da Europa e o mais respeitado jornal da França, destacou na capa de sua edição uma reportagem exaustiva de 3 páginas, assinada por Nicolas Bourcier e Gaspard Estrada. O diário revelava ali que Sérgio Moro, o juiz federal que condenou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e conduziu a Operação Lava Jato no Brasil por cinco anos, atuou para atender aos interesses dos Estados Unidos. A denúncia é explícita: a Lava Jato foi parte da construção de um projeto político de destruição montado pelo Departamento de Estado norte-americano. Intitulada “Justiça, a armadilha brasileira”, a reportagem mostra Moro como “um magistrado considerado ‘tendencioso’”, atuando às vezes de maneira ilegal e à sombra dos Estados Unidos”. O texto é duro: “Existe algo podre no Reino do Brasil. Todo o país é atingido por uma série de crises simultâneas, uma espécie de tempestade perfeita – recessão econômica, desastres ambientais, polarização extrema da vida política, Covid-19... A isso deve ser adicionado o naufrágio do sistema judicial”. O jornal lembra que a Lava Jato surgiu há sete anos, quando o jovem magistrado lançou, em 17 de março de 2014, uma operação anticorrupção, envolvendo a Petrobrás, construtoras e líderes políticos. “Foram emitidos 1.450 mandados de prisão, apresentadas 533 denúncias e 174 pessoas foram condenadas”, aponta o Le Monde. “Depois de mais de sete anos de processos, o próprio cerne da Justiça brasileira acaba de se retrair tanto na substância quanto na forma, abrindo um abismo de questionamentos sobre seus métodos, seus meios e suas escolhas”, reportam Bourcier e Estrada, que lembram que o desmonte da Lava Jato começou quando o site The Intercept começou a apontar irregularidades e equívocos à investigação. “Cento e oito artigos publicados até o momento, por sua vez, levantaram o véu sobre as mensagens comprometedoras trocadas entre promotores e o juiz Moro, lançando luz sobre os vínculos mantidos, às vezes fora de qualquer quadro legal, por investigadores brasileiros com agentes do Departamento de Justiça dos Estados Unidos”, diz o texto. A Lava Jato teve viés político e os procuradores da República eram “obcecados com a ideia de bloquear o PT”. Segundo o jornal, Moro foi capturado pelos interesses dos Estados Unidos ainda em 2007. Na época, atuava no caso Banestado, quando foi então abordado para participar de um programa de relacionamento financiado pelo Departamento de Estado. Ele  viajou aos Estados Unidos naquela mesma época e fez uma série de contatos dentro do FBI, do Departamento de Justiça e do Departamento de Estado, em Washington. “Em dois anos, a Embaixada dos Estados Unidos em Brasília formou uma rede de magistrados e advogados convencidos da relevância do uso das técnicas americanas”, descreve o jornal. A Embaixada dos Estados Unidos passou a estruturar uma rede alinhada às suas orientações no meio jurídico brasileiro, criando um cargo de assessor jurídico e nomeando Karine Moreno-Taxman, procuradora especializada na luta contra a lavagem de dinheiro e o terrorismo. “No espaço de dois anos, o trabalho de Karine Moreno-Taxman dá frutos”, diz o Le Monde. Em novembro de 2009, a assessora jurídica da embaixada é convidada a falar na conferência anual de policiais federais brasileiros. “Em um caso de corrupção, é preciso correr atrás do ‘rei’ de forma sistemática e constante para derrubá-lo”, afirma a assessora jurídica da embaixada dos Estados Unidos, no encontro com policiais realizado em Fortaleza. De acordo com o diário francês, o nome de Lula, enredado no escândalo do “Mensalão”, não é citado em nenhum momento. Mesmo que ele esteja presente na mente de todos, ninguém imagina então que este se tornará o “rei” designado pela senhora Moreno-Taxman. No entanto, é isso que vai acontecer. “E Sergio Moro está lá, presente desde a primeira hora do congresso”, destaca o Le Monde.