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Vai virar uma Argentina?
Situação econômica do Brasil gera comparações com o país vizinho, onde o governo congelou os preços de 1.500 produtos para tentar estancar a inflação, repetindo uma medida tomada aqui pelo ex-presidente José Sarney no final dos anos 1980, mas o dólar segue subindo e faltam itens de primeira necessidade
Com uma inflação de 10,25% em um ano (a terceira maior do mundo, atrás justamente da Argentina e da Turquia), alta galopante dos juros para contê-la (as previsões apontam que a Selic, que começou 2021 em 2%, terminará o ano a 8,75%) e uma moeda em derretimento frente ao dólar, economistas têm apontado semelhanças inequívocas entre essa deterioração recente da economia brasileira e a longa crise argentina. O contexto inflacionado é a principal delas. O câmbio é outro. Mas também há diferenças significativas, como a liquidez em moeda estrangeira da economia vizinha e o histórico recente dela entre sucessivos acordos com o Fundo Monetário Internacional (FMI). “Não temos feito pouco esforço, mas ainda estamos longe da Argentina”, observa Alexandre Schwartsman, ex-diretor do Banco Central. “Isso acontece não porque não somos caóticos, mas porque os argentinos conseguem ser mais caóticos que nós”.
O cientista político Francisco Tinocopercebe mais afinidades do que diferenças. Na sua análise, os países se parecem porque tanto o governo de Fernández quanto o de Jair Bolsonaro estão colocando suas economias reféns de projetos eleitorais. Na Argentina, as pesquisas indicam que a oposição vencerá as eleições parlamentares de novembro — o que faz com que o presidente tome medidas para tentar mudar o panorama político. No Brasil, o fim do equilíbrio fiscal com o aumento abrupto do Auxílio Brasil, pretendido por Bolsonaro, arrepia o mercado há meses. Diante da crise crescente e sem capacidade para oferecer soluções para resolver a situação, o ministro da Economia, Paulo Guedes, dispara xingamentos aos colegas (chamou Marcos Pontes, da Ciência e Tecnologia de “burro”) enquanto tenta salvar seu emprego. A inoperância argentina é semelhante à do Brasil. “São governos populistas que só pensam na reeleição”, afirma Tinoco. “E o resultado disso é que tanto lá quanto aqui a inflação está em disparada.”
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