'Obscuro', 'apressado' e 'inconstitucional':
especialistas analisam
decreto sobre
privatização
de postos de saúde
do SUS
Documento assinado por Bolsonaro e Guedes libera 'estudos' sobre
'modelos de negócios' do setor privado para as UBS. Veja análise
resumida em 5 perguntas e respostas.
Por Lara Pinheiro, G1
O governo federal editou um decreto que libera estudos sobre parcerias com
o setor privado para a privatização de Unidades Básicas de Saúde (UBS),
do Sistema Único de Saúde (SUS). O foco do decreto é a busca de
alternativas para "a construção, a modernização e a operação" das UBS.
Especialistas ouvidos pelo G1 demonstraram preocupação com o texto publicado na terça-feira (27). "Obscuro", "apressado" e "inconstitucional"
foram alguns dos adjetivos usados para qualificar o decreto.
Em notas do Ministério da Economia e da Presidência, o governo federal ressaltou que "a medida não representa qualquer decisão prévia".
O Ministério da Saúde não se posicionou sobre o tema.
Abaixo, confira – em 5 perguntas e respostas – a análise de especialistas
no assunto:
- O que diz o decreto?
- O que ele significa na prática?
- Já existem parcerias com o setor privado no SUS?
- O SUS pode ser privatizado?
- Por que as UBS são importantes?
Veja as respostas a seguir:
1. O que diz o decreto?
O decreto nº 10.530/2020 dispõe sobre “a qualificação da política de
fomento ao setor de atenção primária à saúde no âmbito do Programa de Parcerias de Investimentos da Presidência da República, para fins de elaboração de estudos de alternativas de parcerias com a iniciativa
privada” (veja imagem abaixo e íntegra do texto ao fim da reportagem).
O texto prevê, no âmbito do Programa de Parcerias de Investimentos
(PPI), a “elaboração de estudos de alternativas de parcerias com
a iniciativa privada” para construir, modernizar e operar
os postos de saúde do país (conhecidos dentro do SUS como
Unidades Básicas de Saúde, as UBS).
Decreto publicado no Diário Oficial da União (DOU) na terça-feira (27) libera estudos sobre parcerias com a iniciativa privada para “a construção, a modernização e a operação de Unidades Básicas de Saúde — Foto: Reprodução/DOU
O documento é assinado pelo presidente Jair Bolsonaro e pelo
ministro da Economia, Paulo Guedes. Não há assinatura de nenhum integrante do Ministério da Saúde.
Em nota, a Secretaria Geral da Presidência da República disse que os
estudos devem indicar "a viabilidade (ou inviabilidade) de aplicação
concreta" das alternativas sugeridas pelos estudos.
2. O que ele significa na prática?
Na opinião do pesquisador em saúde e direito Daniel Dourado,
da Universidade de São Paulo (USP), o texto do governo é obscuro.
“É um decreto muito estranho, muito obscuro,
a redação é muito ruim. É muito difícil,
porque não dá para entender o que ele está falando”, afirma Dourado, ao mesmo tempo
em que lembra que o programa de PPI do
governo "é um programa que trata,
basicamente, de concessões e privatizações”.
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