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domingo, 18 de outubro de 2020

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Por Gabriela Ribeiro, Lucas Ferraz, Mateus Benato e Maurício Oliveira — São Paulo


quarta passagem de Robinho pelo Santos durou seis dias.

 Na noite de sexta-feira, clube e jogador anunciaram a suspensão

 do contrato assinado no sábado da semana passada.

Em 2017, Robinho e outro brasileiro foram condenados em primeira instância, na Itália, por violência sexual de grupo contra uma mulher de origem

 albanesa.

Na manhã de sexta, o ge publicou detalhes da sentença. A pressão da opinião pública e dos patrocinadores tornou insustentável a permanência do atacante no Santos.

O caso aconteceu numa boate de Milão na madrugada de 22 de janeiro de 2013. Na época, Robinho, jogava no Milan.

A condenação não é definitiva. Há outras duas instâncias na Itália.

 A Corte de Apelação de Milão vai analisar o recurso do jogador, 

em segunda instância, a partir de 10 de dezembro.

O julgamento começou em 2016 e terminou em 2017. Na sentença,

 a Justiça italiana informa que a acusação pediu dez anos de prisão para Robinho e seu amigo Ricardo Falco, e que a defesa do atleta solicitou a absolvição. Outros quatro brasileiros envolvidos no caso estão sendo processados à parte porque deixaram a Itália durante o processo.

 O trio de juízes condenou Robinho e Falco a nove anos de reclusão.


Segundo a sentença, a condenação ocorreu porque os acusados sabiam 

que a vítima estava em condição psíquica debilitada quando praticaram

 os atos sexuais em grupo.

A alegação das defesas é que a vítima – que admitiu ter bebido – não foi induzida a fazer nada contra sua vontade. No caso de Robinho

 – ele disse que esteve com a vítima a sós.

A acusação incluiu uma série de evidências: mensagens via SMS, 

Instagram, Facebook, exames de DNA e gravações. Robinho 

e os amigos foram monitorados depois que a Justiça abriu o processo.

A polícia italiana grampeou o jogador e os demais envolvidos –

 e fez até escutas ambientais dentro do carro do atleta.

 Foram essas gravações que complicaram a situação dos brasileiros.

Robinho, do Santos — Foto: Ivan Storti/Santos FC

Robinho, do Santos — Foto: Ivan Storti/Santos FC

INTERCEPTAÇÕES TELEFÔNICAS

A seguir, você verá alguns trechos inéditos da sentença. É necessário registrar o teor de violência sexual das transcrições a seguir.

Num diálogo, Robinho conversa com o amigo Ricardo Falco,

 condenado com ele no mesmo processo:

Falco: – Se ela fosse uma menina mais esperta, dois dias depois, 

ela teria dito: "Escuta, eu fiz alguns exames... Robinho, ou você me dá um dinheiro ou eu vou procurar os jornais...". Aí eu diria que acabou.

 A menina fez os exames, acabou. Entendeu?
Robinho: – Primeiro, porque não tocamos na menina. 

Quem a tocou foram os meninos. Segundo: não há provas.
Falco: – Nada.
Robinho: – Não tinha nenhuma câmera, ela não tem nenhuma foto.


INTERCEPTAÇÕES TELEFÔNICAS

A seguir, você verá alguns trechos inéditos da sentença. 

É necessário registrar o teor de violência sexual 

das transcrições a seguir.

Num diálogo, Robinho conversa com o amigo Ricardo Falco, 

condenado com ele no mesmo processo:

Falco: – Se ela fosse uma menina mais esperta, dois dias depois, 

ela teria dito: "Escuta, eu fiz alguns exames... 

Robinho, ou você me dá um dinheiro ou eu vou procurar os jornais...". 

Aí eu diria que acabou. A menina fez os exames, acabou. Entendeu?
Robinho: – Primeiro, porque não tocamos na menina. 

Quem a tocou foram os meninos. Segundo: não há provas.
Falco: – Nada.
Robinho: – Não tinha nenhuma câmera, ela não tem nenhuma foto.

Os "meninos" a quem Robinho se refere são os outros 

quatro brasileiros envolvidos no caso.

Ao prestar depoimento à Justiça italiana, em 2014, Robinho 

disse que estava na boate, que a moça se aproximou e ele 

a convidou para ir a um local discreto – onde praticaram sexo oral 

por entre cinco e dez minutos, sem que ninguém mais 

estivesse presente.

Os juízes italianos não acreditaram nessa versão. 

Segundo a sentença, "com relação à conduta dos acusados 

de hoje e de outros membros do grupo há declarações inequívocas de autoacusação e acusação direta contidas em conversas telefônicas

 e ambientais interceptadas desde janeiro de 2014."

Segundo o documento, a violência sexual de grupo ocorreu 

no camarim do músico Jairo Chagas, que tocava na boate 

naquela noite. Algumas conversas interceptadas entre 

Robinho e Jairo são citadas na sentença.

A primeira é quando Jairo avisa a Robinho sobre o processo, 

em 3 de janeiro de 2014. A reação do brasileiro é transcrita assim:

Robinho: – Estou rindo porque não estou nem aí. A mulher estava completamente bêbada, não sabe nem o que aconteceu... 

Ela pode dizer o que quiser, porque eu nem toquei nela, 

foram os caras que a pegaram.
Robinho continua: – Foi a garota que me raptou. Se eles

 me chamarem, eu direi isso. Olha, os caras estão na m..., 

ainda bem que Deus existe porque eu nem toquei na garota. 

Eu vi o (amigo 1) e outros que transaram com ela... 

eles vão se dar mal, não eu. Lembro que os caras que 

a pegaram foram o (amigo 2) e o (amigo 3),

 também porque zombaram do (amigo 4). 

Eram cinco em cima dela.

Em 24 de janeiro de 2014, os dois conversam novamente. 

Jairo diz que viu Robinho em situação de sexo oral com a vítima.

 A sentença traz ainda dois diálogos de Jairo com uma amiga. 

O primeiro é de janeiro de 2014.


Amiga: – Que coisa ruim eles fizeram... Essa coisa junto 

com Robinho. Ele também não deveria ter nada com isso...

 Estar com esses amigos desgraçados.
Jairo: – A garota queria fazer sexo. Mas seis são demais.
Amiga: – Isso é coisa de covarde, Jairo. Gente de m... 

que realmente não presta.
Jairo: – Seis são realmente demais.
Amiga: – Se a garota estivesse consciente, eles poderiam

 se safar. Mas ela nem consentiu.

Em março de 2014, Jairo conversa novamente com a mesma 

amiga sobre o acontecido.

Jairo: – Isto não é uma coisa, chama-se estupro. 

O que aconteceu se chama estupro.

A sentença relata também uma mensagem enviada pela 

vítima para Ricardo Falco depois do episódio na boate.

A vítima diz: – Acho que vou falar com um advogado. 

Eles se aproveitaram de mim e você sabe disso! 

Eu não estava definitivamente consciente e nem sei como 

entrei naquele camarim.

Segundo a sentença, a escuta também mostra Falco citando

 com alívio o fato de não haver câmeras no local da boate.

Falco: – A minha única preocupação é que tivesse câmeras, 

porque, se tivesse câmeras, elas teriam gravado que 

eu estava transando com a garota. O fato de não ter câmeras

 foi a nossa salvação.

No depoimento, a jovem afirmou que foi convidada por um

 dos amigos de Robinho para a festa. Ele pediu para ela se

 aproximar da mesa só depois que a esposa do atacante 

fosse embora. A mulher disse que o grupo ofereceu a ela 

várias bebidas alcoólicas – o que acabou sendo decisivo

 para a condenação.

Falco: – Naquele dia ela não conseguia fazer nada, 

nem mesmo ficar em pé, ela estava realmente fora de si.

Robinho: – Sim.

A vítima nunca deu entrevista sobre o caso. Ao apresentar

 a queixa na Justiça, a defesa dela pediu uma indenização

 de pelo menos 100 mil euros – equivalente a 660 mil reais.

 O advogado desconhece qualquer pedido de dinheiro 

diretamente a Robinho.

– Ao menos desde quando ela é assistida por mim, isto é,

 desde o início, nunca houve pedido direto de dinheiro por

 parte da vítima – diz Jacobo Gnocchi, advogado da vítima.

A sentença decretou que ela teria direito a receber 60 mil euros

 – quase 400 mil reais – como reparação por danos morais.

– Seguramente há marcas psicológicas na relação com 

as pessoas, nas suas escolhas pessoais, que são visíveis 

até hoje. Há um dano de tipo psicológico de alguém que 

sofreu violência, reconhecível em todas as mulheres que

 sofrem violência sexual.

Capa da sentença de Robinho — Foto: Reprodução

Capa da sentença de Robinho — Foto: Reprodução

O OUTRO LADO

Uma das alegações dos advogados de Robinho foi que houve

 erro na 

tradução do português para o italiano nas frases gravadas. 

O atleta não quis dar entrevista para a Globo.

A advogada do jogador no Brasil, Marisa Alija, se pronunciou

 em nota: "O jogador reitera que não cometeu o crime, 

que não houve violência sexual

 e nem admissão de culpa nas interceptações telefônicas". 

Diz que outras provas serão apresentadas à Justiça italiana, 

"que certamente 

levarão à absolvição do jogador".

O advogado de Robinho na Itália, Alexsandro Gutierres, 

afirmou que

 não há prova de que Robinho teria induzido a jovem a ingerir 

drogas

 ou bebidas alcoólicas, e que fazer sexo com uma pessoa bêbada

 ou

 drogada não fere a lei.

Ricardo Falco e Jairo Chagas foram encontrados pela 

reportagem, 

mas também não quiseram se pronunciar.

REPERCUSSÃO

Desde que o Santos anunciou, pelas redes sociais, 

que Robinho estava de volta, a repercussão foi intensa

 em muitas esferas. 

Torcedores de diversos clubes se posicionaram contra 

a volta do jogador.

A resposta do clube veio quando essa pressão afetou a 

questão financeira.

– Eu não achei que os patrocinadores agiram de maneira 

precipitada. Eles agiram na proteção da marca. Se há uma

 suspeita, ou no

 caso uma condenação já, eu acho que eles têm

 a responsabilidade. 

De novo,

 não só para o público que consome suas marcas, mas 

como a sociedade como um todo. Hoje em dia, está tudo 

conectado. A responsabilidade não passa apenas pelo

 fato de você estar 

contratado para exercer o trabalho no clube, você tem outras 

responsabilidades – diz Izael Sinem Junior, especialista

 em marketing esportivo, com passagens em grandes 

empresas multinacionais e como diretor de marketing do 

Corinthians.

Compromisso também com quem se vê representado pelas

 cores do clube.

– Eu faço parte do movimento Bancada das Sereias, 

que é um movimento feminino. A gente fez uma nota de repúdio 

e soltou no nosso 

Instagram.

 A partir daí, teve uma repercussão muito grande. É muito triste

 pensar 

que em pleno 2020, nós torcedoras temos que passar por isso. 

Várias vezes, durante essa semana, eu tive que falar:

 vocês estão

 colocando a mulher, que é a vítima, como interesseira, 

como louca – diz Mariana Paquier, advogada e uma das

 administradoras 

do movimento de torcedoras do Santos.

Na tentativa de repatriar um ídolo dentro de campo, 

um debate fora dele.

 E um processo que ainda não acabou.

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