sexta-feira, 28 de agosto de 2020

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Por Vitor Santana, G1 GO

Padre Robson nega as irregularidades — Foto: Fantástico

padre Robson de Oliveira, investigado por desvio de dinheiro da
 Associação Filhos do Pai Eterno (Afipe), em Trindade, movimentou R$ 1,9 bilhão em nove anos usando empresas com nomes semelhantes à da 
entidade, nas quais ele era o único responsável. O Ministério Público 
apura se o dinheiro doado por fiéis foi desviado para compra de
 imóveis. O padre sempre negou qualquer irregularidade.
De acordo com as investigações do Ministério Público, a Afipe original, 
fundada em 2004 por Robson e que tem uma diretoria, recebeu, entre 
2010 e 2018, R$ 74,8 milhões. Uma segunda associação, criada em 2009
 pelo padre, recebeu R$ 255,4 milhões em nove anos. Já uma terceira 
entidade, também fundada pelo sacerdote, arrecadou R$ 1,7 bilhão no
 mesmo período.
Segundo o Ministério Público, o padre "criou várias associações com
 nome de fantasia Afipe ou similar, com a mesma finalidade, endereço 
e nome, e que, por meio de alterações estatutárias, gradativamente, 
assumiu o poder absoluto sobre todo o patrimônio das Afipes".
Além disso, os promotores apontaram que o padre se valeu da condição de presidente das associações para se apropriar de “valores arrecadados pelas entidades, desafiando e ignorando a finalidade da criação dessas pessoas jurídicas, e mais, utilizou-se dos imóveis da associação em proveito próprio
 e de terceiros”.
De acordo com as investigações, a Afipe usou o dinheiro para comprar diversos imóveis, como fazendas, uma delas avaliada em
 R$ 90 milhões, e uma casa de praia na Bahia, e até um avião.
 Ao todo, foram 1,2 mil transações imobiliárias.


Avião vendido para a Afipe — Foto: Reprodução/Fantástico

Avião vendido para a Afipe — Foto: Reprodução/Fantástico


Afipe comprou casa de praia na Bahia — Foto: Reprodução/Fantástico

Afipe comprou casa de praia na Bahia — Foto: Reprodução/Fantástico

Alterações de patrimônios

Com o passar dos anos, a Afipe original teve redução no valor 
arrecadado, conforme o relatório dos investigadores. Em 2010,
 o montante foi de
 R$ 47,9 milhões, caindo para R$ 13,6 milhões no ano seguinte e
 para R$ 1,4 milhão em 2018.
Já uma das filiais criadas em 2009 pelo padre Robson recebeu, em 2010,
 R$ 22,8 milhões, saltando para R$ 74,8 milhões no ano seguinte. 
Em 2018, o montante chegou a R$ 219,1 milhões. A última Afipe criada 
foi a que fez mais movimentações com valores acima de R$ 100 mil, 
de acordo com o relatório do MP. Houve negociações com centenas 
de pessoas e empresas.
G1 entrou em contato por telefone com a defesa do
 padre Robson às 10h40 questionando o motivo dessas 
alterações financeiras nas entidades identificadas como 
Afipes e aguarda um retorno. 

Operação Vendilhões

Deflagrada na última sexta-feira (21), a Operação Vendilhões apura
 desvios na ordem R$ 120 milhões em doações de fiéis por parte 
da Afipe, presidida até então pelo padre Robson, figura presente 
na cena católica e bastante famoso em Goiás.
A investigação do MP aponta que a entidade recebe e gerencia 
cerca de
 R$ 20 milhões por mês. A biografia da entidade relata que as
 doações recebidas são voltadas para a evangelização por meio 
da TV e para obras sociais.
Ao longo dos últimos dez anos, o MP apurou que foram movimentados
 R$ 2 bilhões, sendo a maioria fruto de ofertas dos fiéis para a
 construção da nova Basílica da cidade, iniciada em 2012 e que 
ainda não foi concluída.


Casa de luxo ligada a padre Robson, onde MP cumpriu mandados de busca e apreensão — Foto: Reprodução/TV Anhanguera

Casa de luxo ligada a padre Robson, onde MP cumpriu mandados de busca e apreensão — Foto: Reprodução/TV Anhanguera
A obra foi orçada em mais de R$ 100 milhões naquele ano, mas o 
próprio
 padre admite que o valor final estimado chegou em R$ 1,4 bilhão.
 Um item que encareceu parte da obra foi
 a compra do maior sino suspenso do
 mundo, construído na Polônia especialmente para ser instalado 
na nova Basílica.
De acordo com o promotor de Justiça Sebastião Marcos Martins, 
a operação começou no início do ano passado, decorrente de outra investigação 
vinculada ao padre Robson, na qual ele foi vítima de extorsão. 
Um hacker chegou a ser condenado por extorqui-lo em 
R$ 2,9 milhões, valores pagos com dinheiro da Afipe.

Chantagem por supostos casos 

amorosos

A investigação sobre o desvio de doações começou após
 padre Robson 
em 2017, 
segundo depoimentos colhidos pela Justiça junto ao Ministério
 Público de 
Goiás e à Polícia Civil. Ao todo, o padre pagou R$ 2,9 milhões
 com dinheiro
da Afipe 
em troca do arquivamento das mídias.
A defesa do sacerdote disse ao G1, por meio de nota, que o
 Tribunal de 
Justiça do Estado de Goiás decidiu pelo sigilo do processo
 mencionado
 e que "respeita a decisão incondicionalmente". O padre também
 disse que "confia no Judiciário goiano e é o maior interessado 
em que a verdade prevaleça".
A defesa ressalta quanto a isso, por fim, que além do segredo de
 Justiça que envolve o processo, que "o conteúdo de todas as
 mensagens é falso, 
conforme sentença do TJ-GO que puniu os responsáveis. Os 
criminosos 
foram punidos e presos. Não há autenticidade nem veracidade
 em nenhuma declaração proveniente deles". Em 2019, cinco 
pessoas foram condenadas
 por extorsão contra o padre, com penas que variam de 9 a 16 anos.
Do montante de R$ 2,9 milhões, o MP afirma que a Afipe ficou
 no prejuízo
 em R$ 1,2 milhão, quase a metade da quantia. Porém, segundo
 a defesa 
do padre, o valor usado nos pagamentos foi recuperado
 e está depositado
 em conta judicial, aguardando liberação para retornar às contas
 da
 associação.


Nova Basílica de Trindade ainda está em fase inicial de construção — Foto: Reprodução/Fantástico

Nova Basílica de Trindade ainda está em fase inicial de construção — Foto: Reprodução/Fantástico
Um dos relacionamentos amorosos apontados pelo juiz Ricardo
 Prata na decisão seria com o próprio hacker que invadiu 
os celulares e e-mails
 do padre. O magistrado narra no documento que a informação foi 
realçada por testemunhas à época do processo de julgamento.
A decisão do magistrado traz um segundo romance usado no 
esquema
 de chantagem. Em depoimentos ao Ministério Público, um policial
 civil que estava na investigação e uma pessoa próxima ao padre 
disseram que os hackers encontraram uma foto dele com uma 
mulher, também do círculo
 de amizade do pároco, e uma conversa relatando situações 
amorosas.
Em depoimento ao Ministério Público de Goiás, padre Robson
 admitiu 
que fez repasses aos chantagistas sem o monitoramento da 
polícia, que acompanhava o caso. Uma funcionária da Afipe 
chegou a levar maços de dinheiro, que eram deixados em um
 carro parado num shopping de
 Goiânia, para pagar pelo silêncio dos hackers. 

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