Vaticano sabia das
denúncias contra
padre Robson e
aguardava investigação
para se posicionar,
diz delegado
Apesar da afirmação da polícia, a arquidiocese afirma que não
recebeu 'qualquer questionamento por parte do Vaticano
em face da Afipe ou do padre'. Religioso é suspeito
de desviar R$ 120 milhões doados por fiéis.
Por Rafael Oliveira, G1 GO
Antes de a investigação contra os supostos desvios de dinheiro da Associação dos Filhos do Pai Eterno (Afipe), em Trindade, na Região Metropolitana de Goiânia, chegar à Polícia Civil e ao Ministério Público
de Goiás, o Vaticano já tinha conhecimento e acompanhava de perto as denúncias contra o padre Robson de Oliveira Pereira, fundador e
presidente da entidade. O religioso nega irregularidades.
A informação foi repassada pelo superintendente de Combate à Corrupção
e ao Crime Organizado da Secretaria de Segurança Pública de Goiás
(SSP), delegado Alexandre Pinto Lourenço, que apurou parte das
denúncias e participou de uma reunião com dois representantes
da Ordem Redentorista, em setembro de 2019, em São Paulo.
"Eles narraram que já tinham ciência e que
estavam acompanhando as denúncias.
Pelo que percebemos, eles tinham um
conhecimento avançado da situação.
Porém, não nos disseram se havia em
curso alguma investigação interna
pelo Vaticano", afirma o delegado.
Segundo Lourenço, os possíveis atos ilegais praticados pelo padre
com o dinheiro doado por fiéis do país inteiro chegaram ao Vaticano
por meio de pessoas de dentro da Igreja Católica. O MP-GO
e a Polícia Civil apuram neste momento
desvios de R$ 120 milhões para compra de imóveis de luxo não ligados à atividade religiosa,
desvios de R$ 120 milhões para compra de imóveis de luxo não ligados à atividade religiosa,
entre eles,
uma fazenda no valor de R$ 6,3 milhões e uma casa na praia
de Guarajuba (BA), no valor de R$ 3 milhões.
Apesar da declaração do delegado, a Arquidiocese
de Goiânia,
responsável pelo Santuário do Divino Pai Eterno,
em Trindade,
reiterou que não recebeu informações sobre as denúncias.
Em nota,
disseram "nunca houve qualquer questionamento por parte do
Vaticano em face da Afipe ou da pessoa do padre Robson de Oliveira e,
se houve algum contato com o secretário de
Segurança Pública,
não foi com representantes do Vaticano". No entanto,
a Arquidiocese não responde pela Ordem Redentorista e
recomendou que fossem procurados.
A Ordem Redentorista, que cuida da Congregação da Igreja Católica,
foi procurada pela reportagem às 18h11, por e-mail, único instrumento disponibilizado pela arquidiocese,
mas não recebeu um retorno
até a publicação desta reportagem.
A assessoria do padre Robson de Oliveira afirmou em nota que
"os conselheiros pertenciam à Congregação do Santíssimo Redentor.
Eles não são emissários da Santa Sé. A carta recebida pela
congregação fazia apenas suposições, todas refutadas na apuração.
O padre Robson é o maior interessado na verdade e na transparência,
tanto que já solicitou ao Ministério Público do Estado de Goiás para
ser ouvido, o que ainda não foi agendado". O próprio
padre pediu afastamento de suas funções à frente da Afipe
e da igreja de Trindade ao alegar que quer colaborar
com a investigação.
No domingo (23), o arcebispo metropolitano Dom Washington
Cruz suspendeu temporariamente o direito do padre de realizar celebrações.
Lourenço disse ao G1 que os redentoristas estiveram
em São Paulo em outra oportunidade, possivelmente em 2018,
para tratar das possíveis irregularidades.
"Essas duas vindas do Vaticano ao Brasil precederam
a nossa
entrada nas investigações. Na reunião em que participamos,
no ano passado, eles demonstraram preocupações com os
desvios de dinheiro, mas disseram que aguardariam os
desdobramentos da nossa investigação para tomar
qualquer
providência", comenta Lourenço.
MP deflagra operação para apurar desvio de dinheiro Afipe, em Trindade — Foto: Montagem/G1
Entenda o caso
- No dia 21 de agosto, o MP deflagrou a Operação Vendilhões,
- que apura desvios de verba e lavagem
- de dinheiro na Afipe
- A ação apura o uso de dinheiro da Afipe -
- em sua grande maioria
- doado por fiéis - na compra de
- fazendas, casas de praia e
- outros imóveis de luxo. O MP afirma que eram usados
- "laranjas" e empresas de fachada para
- a prática dos crimes
- Um
- processo de extorsão sofrido pelo
- padre Robson
- originou a ação do MP. A Justiça afirma que um hacker
- extorquiu
- o pároco tinha um romance com ele
- e ameaçava
- expor casos
- A investigação aponta que a Afipe
- movimentou cerca de
- R$ 2 bilhões na última década.
- Ao menos R$ 120 milhões
- teriam sido desviados
- Fundador e presidente da Afipe,
- padre Robson se afastou do
- cargo por conta da operação. Ele era o responsável por gerir um orçamento
- de R$ 20 milhões mensais
Comportamento do padre durante
A investigação que culminou na operaçãoNaquela ocasião, o dinheiro usado para
Padre Robson admitiu que fez- alguns repasses aos chantagistas sem o monitoramento
- Vendilhões,
- pagar pelo silêncio dos
- da polícia. O intuito dos pagamentos,
- de mais de R$ 2,9 milhões, segundo
- o sacerdote,
- era evitar que fossem a público supostos
- casos amorosos dele.
A defesa do padre Robson disse que - "reforça que todo o conteúdo das mensagens
- é falso, o que comprova que ele foi vítima de criminosos de altíssima periculosidade".
- Salienta ainda que "os responsáveis já foram condenados pelo Judiciário
- e cumprem rigorosas penas. Por fim,
- destaca que o religioso "não tem e nunca
- teve nenhum patrimônio".
Mas o delegado Alexandre Lourenço - estranhou o comportamento do padre
- durante
- a investigação. Para ele, é "no mínimo
- suspeito" os pagamentos ocorrerem mesmo
- com a Polícia Civil atuando sobre o caso.
"Se ele não devia nada, por que insistiu e fez pagamentos mesmo sendo acompanhando - por policiais civis? Pagamentos foram
- feitos de forma ocultada à investigação.
- É no mínimo suspeito. Algum problema
- existia no caso", questiona o delegado.
MP-GO deflagra operação que apuraLavagem de dinheiro de fiéis
O MP-GO constatou que padre RobsonNa decisão que autorizou a operação, assinada pelaCrimes investigados:- Apropriação indébita
- Lavagem de dinheiro
- Falsificação de documentos
- Sonegação fiscal
- Associação criminosa
Casa de luxo de padre Robson foi alvo de mandados de buscas e apreensões, em Trindade — Foto: Reprodução/TV Anhanguera - e a Afipe usavam
- lavagem de dinheiro na Afipe, responsável
- pela
- hackers saiu das contas da Afipe. Foram R$ 2,9 milhões empenhados.
- A defesa do padre afirmou que o recuso foi reconquistado e está em conta judicial
- aguardando a Justiça de Goiás para voltar
- para as mãos da associação.
- realizada pela Polícia Civil e o MP, para
- coletar mais informações sobre a conduta
- do padre à frente da Afipe, começou com os episódios de extorsão, em 2017,
- sofridos por Robson de Oliveira por hackers que ameaçavam expor casos amorosos
- e ilicitudes no comando da igreja.
- juíza Placidina Pires, o MP narra uma série de depósitos,
- pagamentos e negociações da Afipe com
- empresas
- de comunicação, postos de combustíveis e, inclusive, políticos.
- de "laranjas" e empresas de fachadas para
- desviar recursos
- oriundos de doações de fiéis e lavar dinheiro
- da entidade.
- O esquema foi alvo da Operação Vendilhões, deflagrada
- na última sexta-feira (21).
as extorsões.
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