Conheça a trajetória
do padre Robson
e entenda a investigação
do MP sobre a compra
de imóveis de luxo
com dinheiro de fiéis
Valor movimentado nas contas da Associação Filhos do Pai Eterno,
na última década, chega a R$ 2 bilhões. MP investiga gasto
de R$ 120 milhões com bens não ligados a atividades religiosas.
Por Rafael Oliveira, G1 GO
De celebridade religiosa a investigado pelo Ministério Público de Goiás por suspeita de desvio de R$ 120 milhões doados por fiéis, padre Robson de Oliveira Pereira nega as irregularidades e se afastou das atividades
na Igreja Católica durante a apuração. Antes, ele era responsável por organizar a Romaria do Divino Pai Eterno, em Trindade, na Região Metropolitana de Goiânia, considerada a maior do mundo em devoção à Santíssima Trindade e que atrai, todos os anos, cerca de 3 milhões de fiéis.
O padre entrou para o seminário aos 14 anos e se tornou sacerdote 10 anos depois. Ao se formar, foi ganhando destaque na igreja e começou a escalar cargos na hierarquia católica. Antes de se tornar padre, recebeu a função de formador, aos 18 anos, e foi um dos únicos no país, segundo a biografia
relatada pelos pais de Robson ao portal Divino Pai Eterno. Depois,
estudou na Irlanda e em Roma. Ao voltar ao Brasil, recebeu a
função de reitor da Basílica do Divino Pai Eterno, na cidade natal.
Milhares de fiéis se reúnem para participar da Romaria de Trindade, todos os anos — Foto: Reprodução/TV Anhanguera
Aos 46 anos, o padre se envolveu na investigação sobre movimentação financeira de recursos doados por fiéis. Está em curso no
Ministério Público de Goiás (MP) uma apuração acerca de compras
de imóveis não ligados à atividade religiosa com dinheiro de devotos.
O padre é suspeito de apropriação indébita, falsificação de documentos, sonegação fiscal, associação criminosa e lavagem de dinheiro.
Entre os bens luxuosos com o dinheiro da entidade estão uma fazenda
no valor de R$ 6,3 milhões, em Abadiânia, e uma casa na praia de Guarajuba (BA), que custou R$ 3 milhões.
"Constatou-se que os gastos de boa parte das doações não tinha vínculo com questões
religiosas, mas com outros negócios, como a compra de imóveis, propriedades rurais,
cabeças de gado e emissoras de rádio",
disse o MP.
Casa de luxo de padre Robson foi alvo de mandados de buscas e apreensões, em Trindade — Foto: Reprodução/TV Anhanguera
As suspeitas foram levantadas diante das movimentações financeiras nas contas da Associação Filhos do Pai Eterno (Afipe), que é responsável pela administração do Santuário Basílica de Trindade. A entidade foi fundada
pelo padre em 2004, com o objetivo de proporcionar auxílio na
vivência da fé e propagar a devoção ao Divino Pai Eterno.
A investigação do MP aponta que a Afipe recebe e gerencia cerca de R$ 20 milhões por mês. A biografia da entidade relata que as doações
recebidas são voltadas para a evangelização por meio da TV e para obras sociais.
Ao longo dos últimos dez anos, o MP apurou que foram movimentados
R$ 2 bilhões, sendo a maioria fruto de ofertas dos fiéis para a construção
da nova Basílica da cidade, iniciada em 2012 e que ainda não foi
concluída. A obra foi orçada em mais de R$ 100 milhões naquele ano,
mas o próprio padre admite que o valor final estimado chegou
em R$ 1,4 bilhão. Um item que encareceu parte da obra foi
a compra do maior sino suspenso do mundo, construído na Polônia especialmente para ser instalado na nova Basílica.
Padre Robson diz que nova Basílica de Trindade deve custar R$ 1,4 bilhão após previsão inicial de R$ 100 milhões Goiás — Foto: Reprodução/Fantástico
'Laranjas' usados nos desvios da Afipe
O Ministério Público estadual constatou que padre Robson e a Associação Filhos do Pai Eterno usavam "laranjas" e empresas de fachadas para desviar os recursos.
Conforme a investigação, o padre "criou várias associações com nome de fantasia Afipe ou similar, com a mesma finalidade, endereço e nome,
e que, por meio de alterações estatutárias, gradativamente,
assumiu o poder absoluto sobre todo o patrimônio das Afipes".
Parte dos investigados está vinculada ao quadro diretor da Afipe.
São pessoas indicadas pelo próprio padre.
Padre Robson reassume reitoria do Santuário Basílica de Trindade pelos próximos quatro anos em Goiás — Foto: Afipe/Divulgação
'Laranjas' usados nos desvios da Afipe
O Ministério Público estadual constatou que padre Robson e
a Associação Filhos do Pai Eterno usavam "laranjas" e empresas de fachadas para desviar os recursos.
Conforme a investigação, o padre "criou várias associações com nome
de fantasia Afipe ou similar, com a mesma finalidade, endereço e nome,
e que, por meio de alterações estatutárias, gradativamente, assumiu
o poder absoluto sobre todo o patrimônio das Afipes".
Parte dos investigados está vinculada ao quadro diretor da Afipe.
São pessoas indicadas pelo próprio padre.
Padre Robson reassume reitoria do Santuário Basílica de Trindade pelos próximos quatro anos em Goiás — Foto: Afipe/Divulgação
Chantagem por supostos casos amorosos
A investigação sobre o desvio de doações começou após padre
Robson sofrer ao menos cinco episódios de extorsão de dinheiro,
em 2017, segundo depoimentos colhidos pela Justiça junto ao
Ministério Público de Goiás e à Polícia Civil. Ao todo, o padre
pagou R$ 2,9 milhões com dinheiro da Afipe em troca do
arquivamento das mídias.
A defesa do sacerdote disse ao G1, por meio de nota, que
o Tribunal de Justiça do Estado de Goiás decidiu pelo sigilo
do processo mencionado e que "respeita a decisão
incondicionalmente". O padre também disse que
"confia no Judiciário goiano e é o maior interessado
em que a verdade prevaleça".
A defesa ressalta quanto a isso, por fim, que além do segredo
de Justiça que envolve o processo, que "o conteúdo de todas
as mensagens é falso, conforme sentença do TJGO
que puniu os responsáveis. Os criminosos foram punidos
e presos. Não há autenticidade nem veracidade em nenhuma
declaração proveniente deles". Em 2019, cinco pessoas
foram condenadas por extorsão contra o padre,
com penas que variam de 9 a 16 anos.
Do montante de R$ 2,9 milhões, o MP afirma que
a associação ficou no prejuízo em R$ 1,2 milhão,
quase a metade da quantia. Porém, segundo a defesa do padre,
o valor usado nos pagamentos foi recuperado e está depositado
em conta judicial, aguardando liberação para retornar
às contas da Afipe.
Um dos relacionamentos amorosos apontados pelo juiz
Ricardo Prata na decisão seria com o próprio hacker
que invadiu os celulares e e-mails do padre. O magistrado
narra no documento que a informação foi realçada
por testemunhas à época do processo de julgamento.
Processo que originou ação na Afipe cita extorsões milionárias contra padre Robson e ameaça de revelar suposto caso amoroso Goiás — Foto: Reprodução/TV Globo
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