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quinta-feira, 27 de agosto de 2020

A FONTE DA INFORMAÇÃO PORTAL G1.COM :

Por Rafael Oliveira, G1 GO

De celebridade religiosa a investigado pelo Ministério Público de Goiás por suspeita de desvio de R$ 120 milhões doados por fiéis, padre Robson de Oliveira Pereira nega as irregularidades e se afastou das atividades
 na Igreja Católica durante a apuração. Antes, ele era responsável por organizar a Romaria do Divino Pai Eterno, em Trindade, na Região Metropolitana de Goiânia, considerada a maior do mundo em devoção à Santíssima Trindade e que atrai, todos os anos, cerca de 3 milhões de fiéis.
O padre entrou para o seminário aos 14 anos e se tornou sacerdote 10 anos depois. Ao se formar, foi ganhando destaque na igreja e começou a escalar cargos na hierarquia católica. Antes de se tornar padre, recebeu a função de formador, aos 18 anos, e foi um dos únicos no país, segundo a biografia
 relatada pelos pais de Robson ao portal Divino Pai Eterno. Depois, 
estudou na Irlanda e em Roma. Ao voltar ao Brasil, recebeu a
 função de reitor da Basílica do Divino Pai Eterno, na cidade natal.

Milhares de fiéis se reúnem para participar da Romaria de Trindade, todos os anos — Foto: Reprodução/TV Anhanguera

Milhares de fiéis se reúnem para participar da Romaria de Trindade, todos os anos — Foto: Reprodução/TV Anhanguera
Aos 46 anos, o padre se envolveu na investigação sobre movimentação financeira de recursos doados por fiéis. Está em curso no
 Ministério Público de Goiás (MP) uma apuração acerca de compras
 de imóveis não ligados à atividade religiosa com dinheiro de devotos.
 O padre é suspeito de apropriação indébita, falsificação de documentos, sonegação fiscal, associação criminosa e lavagem de dinheiro.
Entre os bens luxuosos com o dinheiro da entidade estão uma fazenda 
"Constatou-se que os gastos de boa parte das doações não tinha vínculo com questões

religiosas, mas com outros negócios, como a compra de imóveis, propriedades rurais,

cabeças de gado e emissoras de rádio",

disse o MP.

Casa de luxo de padre Robson foi alvo de mandados de buscas e apreensões, em Trindade  — Foto: Reprodução/TV Anhanguera

Casa de luxo de padre Robson foi alvo de mandados de buscas e apreensões, em Trindade — Foto: Reprodução/TV Anhanguera
As suspeitas foram levantadas diante das movimentações financeiras nas contas da Associação Filhos do Pai Eterno (Afipe), que é responsável pela administração do Santuário Basílica de Trindade. A entidade foi fundada
 pelo padre em 2004, com o objetivo de proporcionar auxílio na 
vivência da fé e propagar a devoção ao Divino Pai Eterno.
A investigação do MP aponta que a Afipe recebe e gerencia cerca de R$ 20 milhões por mês. A biografia da entidade relata que as doações 
recebidas são voltadas para a evangelização por meio da TV e para obras sociais.
Ao longo dos últimos dez anos, o MP apurou que foram movimentados
 R$ 2 bilhões, sendo a maioria fruto de ofertas dos fiéis para a construção
 da nova Basílica da cidade, iniciada em 2012 e que ainda não foi 
concluída. A obra foi orçada em mais de R$ 100 milhões naquele ano, 
mas o próprio padre admite que o valor final estimado chegou 
em R$ 1,4 bilhão. Um item que encareceu parte da obra foi
 a compra do maior sino suspenso do mundo, construído na Polônia especialmente para ser instalado na nova Basílica.

Padre Robson diz que nova Basílica de Trindade deve custar R$ 1,4 bilhão após previsão inicial de R$ 100 milhões Goiás — Foto: Reprodução/Fantástico

Padre Robson diz que nova Basílica de Trindade deve custar R$ 1,4 bilhão após previsão inicial de R$ 100 milhões Goiás — Foto: Reprodução/Fantástico

'Laranjas' usados nos desvios da Afipe

O Ministério Público estadual constatou que padre Robson e a Associação Filhos do Pai Eterno usavam "laranjas" e empresas de fachadas para desviar os recursos.
Conforme a investigação, o padre "criou várias associações com nome de fantasia Afipe ou similar, com a mesma finalidade, endereço e nome, 
e que, por meio de alterações estatutárias, gradativamente, 
assumiu o poder absoluto sobre todo o patrimônio das Afipes".
Parte dos investigados está vinculada ao quadro diretor da Afipe.
 São pessoas indicadas pelo próprio padre.

Padre Robson reassume reitoria do Santuário Basílica de Trindade pelos próximos quatro anos em Goiás — Foto: Afipe/Divulgação

Padre Robson reassume reitoria do Santuário Basílica de Trindade pelos próximos quatro anos em Goiás — Foto: Afipe/Divulgação

'Laranjas' usados nos desvios da Afipe

O Ministério Público estadual constatou que padre Robson e
Conforme a investigação, o padre "criou várias associações com nome
 de fantasia Afipe ou similar, com a mesma finalidade, endereço e nome,
 e que, por meio de alterações estatutárias, gradativamente, assumiu
 o poder absoluto sobre todo o patrimônio das Afipes".
Parte dos investigados está vinculada ao quadro diretor da Afipe. 
São pessoas indicadas pelo próprio padre.

Padre Robson reassume reitoria do Santuário Basílica de Trindade pelos próximos quatro anos em Goiás — Foto: Afipe/Divulgação

Padre Robson reassume reitoria do Santuário Basílica de Trindade pelos próximos quatro anos em Goiás — Foto: Afipe/Divulgação

Chantagem por supostos casos amorosos

A investigação sobre o desvio de doações começou após padre 
 em 2017, segundo depoimentos colhidos pela Justiça junto ao
 Ministério Público de Goiás e à Polícia Civil. Ao todo, o padre
 pagou R$ 2,9 milhões com dinheiro da Afipe em troca do
 arquivamento das mídias.
A defesa do sacerdote disse ao G1, por meio de nota, que
 o Tribunal de Justiça do Estado de Goiás decidiu pelo sigilo
 do processo mencionado e que "respeita a decisão 
incondicionalmente". O padre também disse que 
"confia no Judiciário goiano e é o maior interessado
 em que a verdade prevaleça".
A defesa ressalta quanto a isso, por fim, que além do segredo
 de Justiça que envolve o processo, que "o conteúdo de todas
 as mensagens é falso, conforme sentença do TJGO 
que puniu os responsáveis. Os criminosos foram punidos
 e presos. Não há autenticidade nem veracidade em nenhuma
 declaração proveniente deles". Em 2019, cinco pessoas
 foram condenadas por extorsão contra o padre, 
com penas que variam de 9 a 16 anos.
Do montante de R$ 2,9 milhões, o MP afirma que 
a associação ficou no prejuízo em R$ 1,2 milhão, 
quase a metade da quantia. Porém, segundo a defesa do padre,
 o valor usado nos pagamentos foi recuperado e está depositado
 em conta judicial, aguardando liberação para retornar
 às contas da Afipe.
Um dos relacionamentos amorosos apontados pelo juiz 
Ricardo Prata na decisão seria com o próprio hacker
 que invadiu os celulares e e-mails do padre. O magistrado
 narra no documento que a informação foi realçada 
por testemunhas à época do processo de julgamento.

Processo que originou ação na Afipe cita extorsões milionárias contra padre Robson e ameaça de revelar suposto caso amoroso Goiás — Foto: Reprodução/TV Globo

Processo que originou ação na Afipe cita extorsões milionárias contra padre Robson e ameaça de revelar suposto caso amoroso Goiás — Foto: Reprodução/TV Globo
A decisão do magistrado traz um segundo romance 
usado no esquema de chantagem. Em depoimentos
 ao Ministério Público, um policial civil que estava
 na investigação e uma pessoa próxima ao padre 
disseram que os hackers encontraram uma foto dele 
com uma mulher, também do círculo de amizade 
do pároco, e uma conversa relatando situações
 amorosas.
"Ele [Robson] me mostrava [mensagens]. Um dos
 vídeos, vamos lá, um deles né, parece que era um
 vídeo gravando a tela de outro celular, onde tinha 
uma foto do padre com a [mulher] próximos
 um ao outro, e suposta troca de mensagens
 amorosas, né?", relatou a pessoa ao MP.
Em depoimento ao Ministério Público de Goiás, 
o padre Robson admitiu que fez repasses aos
 chantagistas sem o monitoramento da polícia,
 que acompanhava o caso. Uma funcionária da
 Afipe chegou a levar maços de dinheiro, que eram
 deixados em um carro parado num shopping 
de Goiânia, para pagar pelo silêncio dos hackers.
"São todas insídias muito fortes,

causam intimidação e também

muita confusão na cabeça.

Se eu agi mal em alguma coisa,

eu agi de boa-fé colocando as

coisas na tentativa de se resolver",

diz o padre em trecho

do depoimento.

MP-GO deflagra operação que apura irregularidades na Afipe, responsável pela Basílica de Trindade  — Foto: MP-GO/Divulgação

MP-GO deflagra operação que apura irregularidades na Afipe, responsável pela Basílica de Trindade — Foto: MP-GO/Divulgação

Vaticano sabia das denúncias,

diz delegado.


Antes de a investigação sobre as supostas 
irregularidades chegar à Polícia Civil e ao Ministério
 Público de Goiás, o Vaticano já tinha conhecimento
 e acompanhava de perto as denúncias contra o padre.
A informação foi divulgada pelo superintendente 
de Combate à Corrupção e ao Crime Organizado 
da Secretaria de Segurança Pública de Goiás (SSP),
 delegado Alexandre Pinto Lourenço, que apurou
 parte das denúncias e participou de uma reunião 
com dois representantes da Ordem Redentorista,
 em setembro de 2019, em São Paulo.
"Eles narraram que já tinham

ciência e que estavam

acompanhando as denúncias.

Pelo que percebemos, eles

tinham um conhecimento

avançado da situação. Porém,

não nos disseram se havia em

curso alguma investigação

interna pelo Vaticano",

afirma o delegado.
Segundo Lourenço, os possíveis atos ilegais
 praticados pelo padre chegaram ao Vaticano 
por meio de pessoas de dentro da Igreja Católica
Lourenço disse ao G1 que os redentoristas estiveram
 em São Paulo em outra oportunidade, possivelmente 
em 2018, para tratar das possíveis irregularidades.
"Essas duas vindas do Vaticano ao Brasil precederam
 a nossa entrada nas investigações. Na reunião 
em que participamos, no ano passado, eles 
demonstraram preocupações com os desvios 

de dinheiro, mas disseram que aguardariam 
os desdobramentos da nossa investigação
 para tomar qualquer providência", comenta
 Lourenço.

Padre Robson Oliveira Pereira está afastado da Afipe — Foto: Reprodução/Instagram

Padre Robson Oliveira Pereira está afastado da Afipe — Foto: Reprodução/Instagram

Defesa do padre Robson

Os advogados de defesa do padre disseram que
 o religioso está "chateado com acusações, 
mas tranquilo". Ainda de acordo com a defesa,
 a Afipe e o padre estão à disposição 
do Ministério Público e colaborando 
com as investigações.
Em relação ao caso da extorsão, a defesa sustenta 
que "padre Robson foi vítima de extorsão,
 tendo buscado suporte da Polícia Civil, 
que monitorou as transações, e culminou
 na prisão dos extorsionários. Já houve sentença,
 e os criminosos foram punidos pelo Judiciário 
com severidade. Não havia qualquer conteúdo 
verídico como objeto das ameaças".
O padre pediu afastamento de suas funções do Santuário Basílica do Divino Pai Eterno e da Associação Filhos do Pai Eterno (Afipe) até que seja concluída a investigação.

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