Hacker diz que fez parte
da chantagem contra
padre Robson na
delegacia após ser
preso e teve que dar
R$ 165 mil a delegado
Condenado por extorsão, ele afirmou em depoimento que produziu
montagens enviadas ao pároco quando estava detido com permissão
do delegado Kleiton Dias, que não quis se manifestar.
Processo originou ação do MP sobre desvios na Afipe.
Por Sílvio Túlio e Gabriel Garcia, G1 GO e TV Anhanguera
O hacker Welton Ferreira Nunes Júnior, uma das cinco pessoas
condenadas pela Justiça por extorquir dinheiro do padre Robson de Oliveira, disse em depoimento à Justiça que e-mails e imagens usados na chantagem foram criados de "dentro da delegacia", quando estava preso.
Ele contou ainda que o delegado Kleyton Manoel Dias, responsável pela investigação do caso, consentiu o procedimento e, após a montagem do material, cobrou dele R$ 165 mil.
À TV Anhanguera, o delegado disse que não ia comentar o assunto.
A Polícia Civil informou que a Corregedoria apura o caso. Já a defesa
do padre Robson afirmou que o fato "somente reafirma que todo
o conteúdo das mensagens mencionadas é falso" (leia na íntegra o posicionamento ao final do texto).
O processo de extorsão ao padre originou a Operação Vendilhões,
deflagrada pelo MP para apurar desvios de doações feitas por fiéis
à Associação Filhos do Pai Eterno (Afipe), responsável pelo
Santuário Basílica de Trindade, cidade na Região Metropolitana de Goiânia. Fundador e presidente da entidade, padre Robson se afastou das funções temporariamente. Ele nega qualquer irregularidade.
O depoimento de Welton consta no processo de extorsão.
Nele, o hacker conta que foi contratado
e receberia R$ 1,5 milhão para "pegar informações do padre"
por uma suspeita de que ele tinha um
caso amoroso. No entanto, ele optou por chantagear o próprio
religioso, pedindo um valor maior -
R$ 2 milhões - para não divulgar as supostas provas contra ele.
No processo, consta que Welton também teria um caso amoroso
com o padre Robson. O hacker, apontado como o mentor da extorsão,
disse que em todo momento conversou com o religioso por um aplicativo
de mensagens.
Welton afirma que somente após a prisão é que começou produzir o
material contra o padre e criar o e-mail que foi enviado com ele. Tudo isso, segundo ele, na delegacia e com a permissão do delegado.
"Eu fiquei uma semana lá na Deic [Delegacia
Estadual de Investigações Criminais] criando
isso aí (...). Fiquei uma semana dentro
da sala do delegado fazendo isso aí",
disse Welton no depoimento.
Uma dessas criações é um e-mail enviado ao padre em
24 de março de 2017. Usando a alcunha "Detetive Miami"
- também criada na delegacia, segundo ele - o hacker escreve
que está com "cópia de todos os seus emails" e "dois anos de
conversa no WhatsApp".
No texto, ele cita ainda um suposto "caso" do religioso com uma mulher e cobra R$ 2 milhões
para não divulgar o material.
No tempo em que ficou detido, ele disse que ficou preso "na sala
do delegado", que dormia e tomava banho lá. Welton afirmou ainda que,
quando terminou de criar o material, o delegado e alguns agentes
começaram a cobrar dinheiro dele e até a agredi-lo. Ele diz que pagou,
mas que o dinheiro era próprio e não da extorsão ao padre.
"Quando nós terminamos, aí o delegado falou 'eu quero dinheiro,
eu quero dinheiro', e batia em mim (...). O dinheiro ficou com eles, né.
Em torno de R$ 165 mil", disse.
Entenda o caso
No dia 21 de agosto, o MP deflagrou a Operação Vendilhões,
que apura desvios de verba e lavagem de dinheiro na Afipe
A ação apura o uso de dinheiro da Afipe - em sua grande maioria
doada por fiéis - na compra de fazendas, casas de praia e outros
imóveis de luxo. O MP afirma que eram usados "laranjas" e empresas de fachada para a prática dos crimes
Um processo de extorsão sofrido pelo padre Robson originou
a ação do MP. A Justiça afirma que um hacker extorquiu o pároco
tinha um romance com ele e ameaçava expor casos
A investigação aponta que a Afipe movimentou cerca de R$ 2 bilhões
na última década. Ao menos R$ 120 milhões teriam sido desviados
Fundador e presidente da Afipe, padre Robson se afastou do cargo
por conta da operação. Ele era o responsável por gerir um orçamento
de R$ 20 milhões mensais
Nota da Polícia Civil:
Em relação ao questionamento formulado, a Polícia Civil de Goiás
informa que a atual gestão instaurou procedimento na Corregedoria da instituição para apurar eventual transgressão disciplinar de policiais civis.
O procedimento é sigiloso enquanto estiver em andamento, razão pela
qual não serão prestadas maiores informações.
Nota da SSP
A Secretaria de Segurança Pública de Goiás informa que a
responsabilidade da apuração dos fatos é da Corregedoria da Polícia Civil. Cabendo à instituição se posicionar a respeito do caso,
conforme permissão legal.
Nota do padre Robson:
Isto somente reafirma que todo o conteúdo das mensagens
mencionadas é falso. Os responsáveis já foram condenados
pelo Judiciário com severas penas. Este processo, no qual o
padre Robson figura como vítima destes criminosos, está sob sigilo,
conforme decisão do Tribunal de Justiça de Goiás.
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